Você Sabe o que é Monopólio?

Ou mais importante: você sabe como a existência de um monopólio pode afetar sua vida?

Vamos por partes então.

No mercado de bens e serviços você geralmente encontra um leque de opções de diferentes empresas e marcas para satisfazer as suas necessidades, certo? Não importa se essas necessidades sejam moldadas por preço, por qualidade, por exclusividade, você encontra muitas marcas de produtos semelhantes.

Vamos chamar isso de concorrência perfeita.

Quando você precisa comprar um produto pode visitar muitas lojas ou plataformas até encontrar o que se adeque melhor as suas necessidades e desejos.

Você pode até achar que uma das lojas está cobrando um preço muito alto pelo produto, e tem certeza que pode encontrá-lo por menor preço em outro estabelecimento.

Vamos chamar isso então de mercado competitivo.

Quando existe concorrência perfeita e o mercado é competitivo isso significa que você pode procurar por opções que se encaixem melhor nas suas preferências individuais ou na sua capacidade de arcar com o pagamento desse bem.

É o cenário ideal.

E quando isso deixa de existir?

Você precisa urgente trocar uma peça do seu celular, que não tem tanto tempo assim e não tem capital para comprar um novo, na assistência você descobre que essa peça custa mais de R$ 1.000,00, indo na internet e em outras lojas físicas, encontra o mesmo valor de orçamento em todas.

Ao pesquisar mais profundamente, percebe que existem milhares de reclamações de clientes insatisfeitos por estarem com o mesmo problema no telefone e não conseguirem pagar pela troca da peça.

Você descobre também que somente uma empresa no planeta fornece essa peça.

Ou você compra essa peça ou troca de celular.

Temos aqui formação de um monopólio.

O monopólio se caracteriza quando não é possível existir concorrência, apenas uma empresa domina o mercado, e os consumidor não possuí outra opção de escolha caso necessite muito comprar o bem ou serviço que essa empresa oferta.

Eu usei o exemplo de um componente de telefone, mas podemos utilizar qualquer produto para pensar em monopólio: alimentos, bebidas, roupas, eletrônicos, etc.

Se a Coca-Cola comprasse todas as empresas de refrigerante que existem hoje no Brasil você só poderia tomar refrigerante caso aceitasse pagar o que a Coca-Cola definisse, se não possuir o dinheiro para comprar ou discordar do preço, será obrigado a deixar de consumir refrigerante. Ela se tornaria um monopólio.

Mas afinal, por que o monopólio existe?

Você pode pensar inicialmente que a existência de empresas monopolistas provêm de uma prática desleal ou corrupta.

Em alguns casos pode até ser que sim.

Mas no geral existem algumas causas naturais e não-naturais que colaboram para o surgimento dessas empresas.

Antes de continuar eu quero te apresentar a um termo novo: economia de escala.

Sabe o que é isso?

Economia de escala é quando uma empresa pode produzir mais diminuindo seu custo médio de produção. Pense dessa forma: se você consegue produzir 01 celular gastando R$ 1.000,00 e 02 celulares gastando R$ 1.200,00, isso significa que seu custo total (01 celular = R$ 1.000,00 e 02 celulares = R$ 1.200,00) cresce cada vez que você produz mais uma unidade de celular.

Porém quanto mais unidades de celular você produzir, você percebe que o custo médio está caindo.

Como é isso?!

Se você produziu um celular por R$ 1.000,00 então ao produzir outro deveria ser um custo de R$ 2.000,00 – mil reais por unidade, mas não foi isso que aconteceu.

O segundo celular que você produziu custou apenas R$ 200,00 a mais.

Conforme você produzir mais celulares e o seu custo médio continuar baixo, então vale a pena produzir mais celulares!

Mas como isso é possível?

Manuela abriu uma fábrica de celulares, ela paga R$ 10.000 de aluguel no terreno e comprou uma máquina.

Pense na fábrica de celulares, Matheus que compra as peças pode fazer um pedido de 100 peças ou fazer um pedido de 200 peças, seu salário no final do mês é o mesmo então vamos supor que ele tenha comprado as 200 peças e ainda conseguiu um desconto com o produtor dessas peças por estar comprando em maior quantidade.

Na fábrica nós temos o Victor que liga a máquina as 10 da manhã, coloca as 100 peças e depois finaliza a montagem e vai embora para casa as 16 da tarde, ele pode agora colocar as 200 peças sem mudar em nada o consumo de energia da máquina que ele ligou, vamos supor que a máquina consuma 30,00 de energia elétrica a cada 6 horas. O salário do Victor é pago por dia, ele trabalha 6 horas e não muda em nada colocar 100 peças e finalizar 1 celular do que colocar 200 peças e finalizar 2 celulares.

A Manuela segue pagando os R$ 5.000,00 de aluguel mesmo que o Victor produza 2 celulares.

Se você viajar para cada detalhe desta fábrica de aparelhos celular, vai conseguir ver porque o segundo aparelho custou apenas R$ 200,00 a mais que o primeiro aparelho, que custa R$ 1.000,00 para ser produzido.

Isso é a economia de escala, fator chave para entender a existência dos monopólios.

Muito bem, então por que essa empresa consegue produzir mais produtos e diminuir seus custos?

Os motivos podemos listar abaixo:

  • Especialização do Trabalho: conforme os profissionais e a força produtiva dessa empresa cresce, ela consegue se especializar no que faz. Ela ganha mais e mais expertise e com isso fica muito mais fácil produzir.
  • Máquinas e Equipamentos: com tecnologias melhores e máquinas mais avançadas é possível produzir mais sem aumentar tanto o seu custo, uma vez que o equipamento já foi pago e durante sua vida útil continuará produzindo. Outro exemplo pode ser uma empresa que utiliza os mesmos equipamentos para produzir produtos diferentes, onde ela produz garrafas pode produzir galões e assim por diante.
  • Poder na Compra dos Insumos: uma firma que tenha acesso fácil as matérias primas necessárias para produzir seus produtos tem um poder de barganha maior e ainda pode barrar outras firmas de comprar esses insumos.
  • Propaganda e Marketing: se uma empresa já tem uma imagem sólida no mercado fica muito mais fácil para ela lançar novos produtos, os consumidores já a conhecem e já possuem um nível de confiança formado. Exemplo: você provavelmente experimentaria um refrigerante novo no mercado se soubesse que ele é do grupo da Coca-Cola.
  • Pesquisa e Desenvolvimento: quanto mais poder de mercado essa empresa tem e menos ela gasta para produzir, mais ela pode investir capital em pesquisa e desenvolvimento para descobrir novas tecnologias ou maneiras de aprimorar seu produto.

Agora você deve estar se perguntando: “ok, entendi que a empresa produz mais com menos dinheiro, mas onde isso vira um monopólio?”

Bom, se a fábrica da Manuela consegue produzir cada vez mais telefones e por menos dinheiro, em algum momento ela irá atingir a venda dos seus concorrentes, vamos supor que na mesma cidade exista a fábrica de celulares do Joaquim.

O Joaquim não consegue produzir 2 celulares por R$ 1.200,00, ele só consegue por R$ 1.800,00, quando o aparelho da Manuela chegar na loja, chegará custando R$ 3.000,00 enquanto do Joaquim vai chegar custando R$ 4.000,00 (uma vez que ele não consegue diminuir os custos).

Os clientes vão preferir comprar o celular da Manuela e o Joaquim irá a falência, tornando a fábrica da Manuela a única produtora de celulares da cidade toda.

Ficou mais claro para você entender os motivos que tornam mais fácil a chegada de monopólios no mercado?

Vamos agora nos aprofundar um pouco nessas estruturas.

O monopólio natural se forma quando existem barreiras naturais que impedem que novas empresas entrem para explorar o mercado.

As cidades precisam de água potável e energia elétrica para existir.

Vamos imaginar que o governo tenha extinguido a exclusividade de existir apenas uma empresa para explorar esse segmento, e agora qualquer pessoa pode abrir sua empresa de energia.

Consegue imaginar o caos que se tornariam as grandes cidades?

Quantos postes ou cabeamento de diferentes empresas seriam necessários para atender uma única rua que tivesse clientes de 3 empresas diferentes?

Quantos sistemas de cano, esgoto ou estação de tratamento seriam necessários para formar esse mercado competitivo?

E se você desejasse mudar de empresa que fornece a sua água, teria que trocar ou redirecionar os canos que entram na sua residência?

Esse claramente é um exemplo exagerado uma vez que estamos falando de bens públicos, mas já é o suficiente para você ter uma ideia do quanto isso impactaria na urbanização das cidades.

Os monopólios naturais são imutáveis?

Não.

As rodovias eram de responsabilidade do estado, atualmente empresas privadas podem adquirir a concessão dessas vias e administrá-las.

Pense nas ecovias que ligam a cidade de São Paulo ao litoral, imagine que daqui alguns anos o fluxo de pessoas nessas regiões aumente exponencialmente.

Será preciso construir novas rodovias e com isso abre-se uma chance de novas empresas adentrarem o mercado que era inicialmente estatal.

Uma das causas para uma empresa possuir monopólio de um mercado é a tecnologia.

A Microsoft desenvolveu o Windows e dominou o mercado de microcomputadores por décadas, uma vez que não existiam concorrentes aptos a desenvolver um produto similar.

Outra possibilidade monopólio não natural é quando o Estado determina que somente uma empresa irá exercer uma certa atividade em uma determinada área, afim de preservar os interesses da população ou aumentar o bem-estar do país.

Existem contrapontos à existência de monopólios estatais, tais como o aumento dos gastos públicos ou a ineficiência de um determinado serviço. Mas isso é um assunto para uma discussão diferente.

Agora sim conseguimos reunir todas as fontes causadoras dos monopólios:

  • Economias de Escala;
  • Ter Propriedade da Marca ou Patente;
  • Ter Propriedade da Matéria-prima;
  • Ter Propriedade da Tecnologia;
  • Concessão do Governo;

Por fim a questão mais importante:

No preço.

No acesso ao produto.

Na disponibilidade de produtos.

Na variedade de produtos.

Fácil né?

Se somente uma empresa produz pomada para assaduras no país inteiro, e ela em seu planejamento estratégico definir que deixará de atender o estado do Amapá por não haver muitos consumidores e pela logística ser cara, mesmo que existam 300 mil consumidores na região, esses 300 mil deixarão de receber pomada para assadura em suas farmácias e terão de viver sem esse produto.

A firma monopolista pode determinar preços com mais facilidade do que em um mercado onde existe concorrência perfeita, como somente ela oferta um determinado bem é fácil determinar um preço onde os consumidores aceitarão pagá-lo, e mesmo que exista os que deixam de consumir não serão suficientes para gerar perdas em um nível que o monopolista aceite abaixar o preço.

Isso não é uma verdade universal, claro.

No caso da pomada de assaduras, os 300 mil amapaenses que deixarem de comprar não farão diferença para a estratégia da empresa, que ainda conseguirá aumentar seus lucros.

É importante citar que muitos monopolistas irão sofrer pressão dos consumidores, dos demandantes, se muitos deixarem de consumir o produto, o que pode levar o monopolista inclusive a exercer preços diferentes para diferentes regiões.

Falei tanto que no monopólio o cenário é de não concorrência e agora vamos expandir só um pouquinho esse conceito!

É importante que você entenda a pluralidade e existência de exceções nos nossos mercados complexos.

A concorrência monopolista encontra-se em uma posição intermediária entre o monopólio e a concorrência perfeita. Ao contrário do oligopólio, onde o número de empresas com grande poder de mercado é menor, na concorrência monopolista o número de empresas é grande, resultando em um nível significativo de concorrência. O poder de determinar o preço do produto é influenciado pelo grau de diferenciação do mesmo. Isso significa que há várias empresas no mesmo segmento, produzindo e vendendo bens semelhantes. No entanto, essas empresas podem modificar as características de seus produtos para agregar maior valor, possibilitando assim uma maior capacidade de diferenciação de preços.

Quando abordamos o tema de concorrência monopolística estamos dizendo que cada firma possui o monopólio de uma marca ou atributo específico, mas existem substitutos muito próximos que alteram a estrutura desse mercado.

Exemplo?

Vamos supor que só uma empresa no Brasil tivesse o poder de comercializar manteiga, provavelmente você compraria margarina para substituí-la no caso de um aumento grande no preço da manteiga.

Dessa maneira, não importaria existir apenas uma marca de manteiga no mercado quando temos outros produtos para satisfazer a necessidade dos clientes.

Até agora falamos exclusivamente das empresas que detêm um monopólio no mercado, ou seja, o monopólio está do lado de quem OFERTA (vende) o produto ou serviço.

Mas e quando existe monopólio por parte de quem consome? Ou seja, da DEMANDA (compra)?

Daí temos o que é caracterizado como Monopsônio, onde existem várias empresas vendendo um determinado bem mas somente temos um comprador.

Suponha que só exista você de consumidor no mercado para escolher entre as milhares de marcas de manteiga, você provavelmente consome bastante manteiga e pode precisar até pegar de várias marcas para suprir sua necessidade.

O poder de mercado fica nas mãos do consumidor.

Depois de tudo isso, o Monopólio é ruim ou bom para a sociedade?

O que você precisa ter sempre em mente é que o comportamento de determinados fenômenos econômicos são muito difíceis de entender, ou de prever as suas causas.

É preciso cautela antes de adotar uma opinião que seja contrária a existência de qualquer monopólio ou a favor de um mercado repleto de empresas monopolistas.

A pergunta que precisa sempre ser trazida para o debate é: quais os impactos que alterações nessas estruturas podem causar ao bem-estar social?

Vai ser ruim para a população se o metrô de São Paulo for inteiro vendido a uma empresa? Ou ele atende melhor quando são várias empresas? Ou mesmo quando ele era uma empresa 100% estatal?

Pense na área de Pesquisa & Desenvolvimento por exemplo, ela é essencial para a humanidade uma vez que nos permite criar mais tecnologias, mais energia limpa, mais tratamentos médicos e mais rapidez nos nossos negócios.

O único combustível que uma organização tem para criar inovações é ter mais lucro.

Os programas de Pesquisa & Desenvolvimento seriam impossíveis em um cenário altamente competitivo onde as empresas não conseguem diminuir seus custos de produção para investir em outras áreas.

Por outro lado, quanto do lucro as firmas aceitam queimar em benefício de descobertas que tragam mais bem estar as pessoas? É correto que uma empresa que transporte pessoas para os seus trabalhos seja lucrativa, como o metrô? Se ela visar o lucro, haveria vontade de levar novas estações para regiões distantes e periféricas da cidade?

Para pensar o monopólio é preciso pensar primeiramente em como ele vai impactar o bem estar da sociedade.

Por mais que tentemos simplificar a economia, ela é uma ciência complexa e com resultados imprevisíveis.

É necessário ter sempre isso em mente.