O que são Ciclos Econômicos? Por que o Brasil tem Crises?

“Toda expansão econômica um dia acaba morrendo; apenas a causa da morte muda”

Ip (2010) em Economia do Mundo Real

Ciclos Econômicos são as flutuações que a atividade econômica de uma região, país ou bloco de países sofre durante um certo período de tempo.

Estudar e entender os ciclos econômicos passados é uma forma eficiente de medir os resultados de um país em desenvolvimento e buscar previsões acertadas para curto, médio e até mesmo longo prazo, como afirma Guimarães (2020).

Em países emergentes, como o Brasil, torna-se ainda maior o desafio de vencer períodos de estagnação econômica e criar estruturas fortes que impeçam que a atividade produtiva seja impactada com facilidade. Afinal, como salientam Mello e Junior (2009), estamos falando de um país com grandes desafios internos e grandes necessidades de investimentos em infraestrutura.

Um ciclo alterna um período de crescimento com outro de declínio ou estagnação da atividade econômica.

Você já deve ter presenciado vários deles durante a sua vida.

Como consumidores, nós sabemos quando os produtos de necessidade básica sobem de preço, impactando nossas contas e nosso salário do mês.

Em períodos de recessão percebemos facilmente em nossa volta pessoas próximas enfrentando o desemprego ou precisando diminuir seu padrão de vida. Tudo isso está intrinsicamente ligado ao momento que nosso país vive macroeconomicamente.

O economista e cientista político Joseph Alois Schumpeter classificou os ciclos econômicos em 4 fases:

  • Boom (estouro do mercado com crescimento dos negócios);
  • Recessão (estagnação dos mercados e início das crises);
  • Depressão (declínio do produto interno, desemprego e inflação);
  • Recuperação (retomada do crescimento);

Um ciclo econômico é um acontecimento inevitável em uma economia de mercado e também extremamente imprevisível.

Economistas experientes têm dificuldade de prever o início de grandes crises e quando o período de recuperação terá início. São necessárias muitas análises e perspectivas de comportamento dos índices macroeconômicos para que possamos bater o martelo e entender que uma recessão passou a ser uma estagnação.

A questão é que estes ciclos sempre existirão enquanto existir o livre mercado.

Efeitos Colaterais do Livre Mercado

O livre mercado capitalista possui diversos efeitos colaterais.

Neste artigo eu já abordei mais detalhadamente quais são eles como esses efeitos colaterais agem.

É muito importante que você compreenda que, dentro do capitalismo, existe apenas um objetivo, comum, ou seja, apenas um princípio, meio e fim: o lucro.

Com esta percepção em mente vamos buscar contextualizar os motivos dos efeitos colaterais existirem nas economias.

Um mercado que busca o lucro se torna um mercado incompleto nas regiões menos ricas do país, uma vez que não há interesse de uma empresa privada levar seu produto em uma cidade onde a maioria da população é pobre.

A empresa privada também não tem interesse de expandir sua marca em uma região com menor densidade populacional, pois ela entende que sua chance de lucro não será atingida tornando essas regiões não atrativas aos negócios.

A questão central é que essas regiões também carecem de produtos e de subsistência para suas populações.

Se a macroeconomia vai mal, se o Produto Interno Bruto cai, as empresas buscam o corte de gastos e pausam seus planos de expansão de negócios, causando desemprego e rigidez salarial.

Te convido a um aprofundamento neste debate, fazendo a leitura deste artigo que publiquei no LinkedIn sobre o tema.

Esses efeitos existem e eles precisam estar sempre em evidência quando nos questionamos o porquê estarmos passando por um período de crise econômica.

Produto Interno Bruto como Métrica

O PIB do país é uma das métricas mais tradicionais e importantes para que os economistas possam classificar em qual momento nos encontramos na visão econômica.

Se quiser entender um pouco mais sobre o que é o PIB eu te convido a leitura deste artigo.

O PIB irá nos informar qual foi a produção total da economia do país em um determinado período de tempo, e com este número, conseguimos comparar com períodos anteriores e entender se estamos produzindo mais ou menos.

Uma economia aquecida gera muitos novos postos de trabalho e fomenta o consumo, o que consequentemente se traduz em um PIB maior.

Vamos analisar o desempenho do PIB da década de 2010, uma década de profundas mudanças e crises no Brasil:

PIB década de 2010 – Fonte: IBGE/World Bank

É possível notar que em 2011 havíamos crescido 3,9% o que é um resultado extremamente positivo nas métricas atuais onde o planeta enfrenta baixo crescimento e reflexos da crise do Covid-19.

Em 2013 e 2014 no governo de Dilma Rousseff, temos um clímax do cenário econômico nacional com:

  • Menor taxa de desemprego registrada em 2014;
  • Inflação dentro da meta;
  • Programas de Modernização Urbana, Transportes e Infraestrutura.

Apenas um ano depois o país entra em forte recessão com declínio de -3,5% que fomentariam um cenário político deteriorado que culminaria com o impeachment de 2016.

Os motivos dessa virada tão brusca do ciclo econômico de expansão para um de recessão são inúmeros.

Mas todos remontam de uma política fiscal expansionista que vinha sendo aplicada desde a crise econômica mundial de 2008. Te convido a leitura deste artigo aqui para entender melhor sobre esses motivos.

Os índices de desemprego e do nível de preços também fornecem uma boa visão macro dos períodos que estamos passando na economia.

Os Ciclos Econômicos

Para entender melhor a definição de um ciclo econômico pense em um país com a economia em crescimento ano após ano, em algum momento esse país atingirá o pico do seu crescimento – com o mercado a todo vapor a oferta de crédito e o consumo em níveis altos, como consequência surgem os desiquilíbrios macroeconômicos.

São eles:

  • Inflação (os preços do mercado sobem rapidamente);
  • Déficits Fiscais (governo gasta mais);
  • Desemprego (empresas investem menos);

Segundo IP (2010) os economistas não percebem os desiquilíbrios mais fatais que estão para surgir por estarem olhando o caminho errado. Eles estão ocupados evitando o fator responsável pela última crise e se esquecem de olhar outros setores em busca de novas infecções.

Essa citação de Greg Ip é muito assertiva e nos faz refletir que essa postura ainda é adotada em ciclos de recessão.

Expansão

Um ciclo econômico é considerado em expansão quando ele está em crescimento.

Tal condição pode ser examinada pela mesma ótica utilizada para medir um desempenho ruim da economia: métricas do Produto Interno Bruto (PIB), nível de emprego, índices inflacionários e resultados de balanças comerciais.

Para Pinho, Vasconcelos e Junior (2017) são citadas como fontes de crescimento:

  • Aumento na quantidade de mão de obra empregada na força de trabalho;
  • Aumento da capacidade produtiva ou do estoque de capital;
  • Especialização da mão de obra e qualificação do capital humano;
  • Tecnologia e inovações que permitam melhor aproveitamento dos estoques de capital;
  • Aproveitamento eficiente de recursos e insumos, ou seja, eficiência organizacional.

Marques (2009) cita como exemplo o período desenvolvimentista do Brasil, que teve início na era de Getúlio Vargas em 1930 e se estendeu até a década de 1970, sendo este último considerado parte dos anos chamados de “milagre econômico”, quando o país atingiu inéditas taxas de crescimento do PIB.

A década de 2000 também foi um período de intenso crescimento econômico.

PIB Década de 2000 – Fonte IBGE/World Bank

Você pode observar que mesmo com oscilações os resultados de PIB da década são extremamente invejáveis quando olhamos para nosso momento atual, foi um período onde vimos o maior resultado de PIB do plano real com crescimento de 7,5% em 2010.

No ano de 2009, primeiro pós crise mundial de 2008 a queda brasileira foi de -0,126%, ainda muito menor comparativamente do que nas crises de 2015 e do Covid-19.

Em 2021, mesmo com o maior crescimento desde 2010, 4,6%, não foi possível estabilizar a macroeconomia que ainda sofre sequelas de desabastecimento de produtos da Ásia, nível de preços persistentemente altos e uma taxa de desemprego em 8,1%.

O relatório completo sobre pobreza e desigualdade no Brasil foi lançado pelo World Bank em julho de 2022, analisando os impactos da desigualdade e má distribuição de renda em um período pós-pandemia.

Recomendo fortemente a leitura do artigo resumo (em português) clicando neste link.

A justificativa por trás do crescimento de 2021 foi a reabertura econômica e comercial do país e do mundo com o controle da pandemia do Covid-19, também houve alta nos preços internacionais de commodities o que beneficia diretamente países exportadores de produtos primários como o Brasil.

Essa movimentação econômica acontece sempre que um período de crise internacional se encerra, são booms de reabertura.

Estagnação

Períodos considerados de estagnação econômica são vistos com cautela uma vez que podem ser procedidos de períodos de recessão e diminuição da atividade econômica.

A economia brasileira segue nas mesmas premissas das economias latino-americanas ao se tornar excessivamente dependente do preço internacional das commodities. Para Marques (2009), o período pós crise global de 2008 se tornou delicado e com um grau de vulnerabilidade surgido nas crises estrangeiras.

Em 2014 vivemos um novo período de estagnação avançando para status de recessão no ano seguinte, 2015.

A crise política e pós-eleições intensificaram o processo de deterioração econômica, muitos setores deixaram de investir focando-se em cortar gastos.

Recessão

Em períodos de recessão e de encolhimento da produção a renda do país caí e, consequentemente, as receitas do governo também caem ou diminuem o ritmo de crescimento conforme aponta Frank e Bernanke (2012).

Também chamada de Contração, a recessão é um período da economia onde nota-se uma taxa de crescimento abaixo do normal.

Frank e Bernanke (2012) também definem como Depressão um período de recessão muito longo e agravado.

Para Samuelson e Nordhaus (2012), um fator importante para se entender os ciclos econômicos de curto e longo prazo é o comportamento de consumo das famílias. Quando existe uma mudança nesse comportamento, todas as demais variáveis também se alteram, como a produção e o emprego.

Cristiano e Fitzgerald (1998) ponderam as preocupações dos economistas em entender os fatores que levam aos movimentos econômicos e que persistem nas recessões e expansões.

Os desafios em sair de períodos de baixa produtividade na economia não seguem uma receita predefinida como Ramos (2006) aponta, políticas monetárias expansionistas não são garantia de sustentar um crescimento na atividade econômica.

Em 2015 vivenciamos um novo ciclo de recessão com encolhimento de -3,5% do PIB, pior resultado desde 1990.

O setor industrial havia caído -7,8% e as vendas do comércio recuaram ao nível de 2012.

Muitos postos de trabalho foram fechados na indústria, no comércio e nos serviços (setor com maior fatia de representação no PIB).

Por que o Brasil tem Crises?

Viver em um mercado aberto e globalizado é como estar dentro de uma rede interligada de pontos: o que acontece em um dos pontos pode impactar os pontos seguintes.

O que acontece dentro dos países que temos acordos comerciais impactam diretamente os nossos resultados e a nossa produção.

Os ciclos econômicos podem ser vistos como falhas de um mercado capitalista, uma vez que ele não consegue absorver todos os problemas e desequilíbrios que a vida humana cria.

Se existem pessoas desempregadas após um período de recessão, as empresas veem oportunidade de cortar custos absorvendo profissionais qualificados da massa de desempregados que aceitem um salário menor para retornar ao mercado de trabalho.

Se não há lucro, empresas não irão produzir e nem empregar, tampouco escoar sua produção para cidades mais distantes das grandes metrópoles.

A questão central ao estudar os períodos de crescimento e recessão dos países é voltada a entender como os governos podem minimizar os impactos dessas crises ou mesmo evitá-las em um nível maior.

  • Quais são os níveis de corrupção dentro desses países?
  • Quantos realmente revertem suas riquezas de crescimento em desenvolvimento social?
  • Quanto de seu PIB é destinado para a educação e formação de profissionais para suprir os mercados altamente concorrenciais e tecnológicos?

Assim como todos os países latino americanos e africanos, o Brasil também enfrenta questões ligadas a sua raiz colonial, sobre como suas terras foram povoadas e utilizadas por muitos séculos.

Somos parte de um grupo de países que se industrializou tardiamente e se desindustrializou cedo demais.

Fazemos parte de um nicho mundial que não consegue desenvolver seu sistema educacional e fazer pesados investimentos em pesquisa e educação superior.

A história econômica nos traz ensinamentos valiosos neste tema, mas pouco dele é absorvido, uma vez que o lucro sempre será o foco central e principal de qualquer atividade capitalista.