É Hora de Diminuir o Risco da Sua Carteira

Euforia é um dos meus maiores inimigos quando estou lidando com investimentos de outras pessoas.

Quando o mercado, a mídia e as conversas na copa da empresa são voltadas ao pânico, crise econômica e caos social, as pessoas automaticamente ficam com receio de comprar uma ação qualquer que seja (mesmo que ela custe R$ 20,00)

O medo do prejuízo é real.

Já quando temos o cenário contrário e todos estão falando sobre as altas recordes da Bovespa, sobre o resultado recorde do agronegócio ou aumento das previsões do PIB, a euforia se volta no quesito de todo mundo querer correr riscos e não deixar escapar oportunidades imperdíveis.

Ouro, petróleo, educação, agro, seu e-mail é bombardeado com oportunidades previstas para os próximos meses.

Então perceba que a euforia atrapalha o investidor quando as coisas estão indo bem e também atrapalham quando estão ruins, mas eu preciso te assegurar que ela é mais prejudicial no cenário bom que no ruim.

Por que?

Simplesmente porque quando o cenário é ruim e a euforia toma conta, as pessoas automaticamente querem ser o mais conservadoras possível, questionando até possibilidades de perda na renda fixa ou pasmém – calote do Estado e necessidade de acionar o Fundo Garantidor de Crédito.

Pecar pelo conservadorismo dói menos na carteira que pecar pelo arrojado em demasia.

Se o investidor se tornou conservador por medo então ele já está num degrau muito mais seguro, afinal, nem todo mundo vai querer correr riscos por menores que eles sejam.

Agora o movimento oposto… esse sim me deixa preocupado!

Todo mundo quer comprar, quer comprar agronegócio, ouro, varejo, uma loucura.

Nenhum problema em querer comprar mais investimentos na renda variável, contanto que você tenha em mente dois fatores:

  • Risco;
  • Diversificação;

Se você entende o grau de risco de onde está adentrando então não tem problema, contanto que você não compre exclusivamente por euforia e por achar que descobriu o ouro com empresa X ou oferta de empresa Y.

Quando compramos pensando nas oportunidades corremos o risco de cometer esses dois erros:

Primeiro: comprar demais um mesmo título (ou segmento) e esquecer que a diversificação é o caminho mais seguro (e mais lucrativo);

Por exemplo, vamos imaginar um cenário em que começamos a viver uma produtividade recorde do varejo, consumo em alta e boas perspectivas, um investidor monta uma carteira com 05 empresas: Renner, Casas Bahia, Magalu, Ambev e Vivara.

Apesar de termos 05 empresas diferentes aqui, todas elas atendem o mesmo setor: varejo.

Um período ruim no varejo seria arriscado para todas as 05 empresas.

Segundo: entrar em roubadas buscando lucro rápido.

Hoje em dia é muito fácil encontrar gurus do mercado financeiro (da mesma maneira que esse post te encontrou outros te encontram rapidinho) que irão te vender o segredo de ficar rico na bolsa de valores, também vale salientar que é estrutural que as pessoas estão com filtros cada vez menores para informações provenientes da internet, então qualquer post ou vídeo se torna compartilhável mesmo que seja uma grande furada.

É assim que cometemos esses dois erros com mais facilidade.

O investidor experiente e o inexperiente são unânimes em torcer o nariz quando chega o momento de baixar suas expectativas, e infelizmente essa é a regra do mercado assim como é no cenário macroeconômico, são ciclos que vem e vão, baixas e altas.

É importante ser capaz de interpretar o tempo certo de se realizar compras e vendas de títulos dentro dessa curva de altos e baixos da economia brasileira.

Comprar na baixa e vender na alta, esse é o sonho comum.

Eu sempre bato na tecla de que conhecer os dados básicos macroeconômicos são o primeiro passo para começar a acertar mais do que errar, para em seguida, poder avaliar a empresa em si que você pretende se tornar acionista.

O Cenário que nos aguarda

Estamos saindo de um período difícil. Uma crise que afetou todo o planeta.

Começa-se a rascunhar um retorno total das atividades comerciais e uma população vacinada e pronta para retomar sua vida.

O nível de emprego começa naturalmente a subir, o consumo aumenta, empresas aumentam a produção e assim sucessivamente.

As previsões do COPOM (Comitê de Política Monetária) para 2021 e 2022 já são cada vez mais otimistas, e a alta no preço das commodities e resultados do mercado atiçam ainda mais a vontade dos investidores em correr para a bolsa.

Segue um compilado do último relatório divulgado com as expectativas atualizadas:

Tabela 1. Dados de 18/06/2021

As estimativas para o PIB foram revisadas de um crescimento de 3,52 (previsão de 4 semanas atrás) para 5,00 (previsão mais atual) o que é esperado durante a retomada da atividade comercial e do consumo em um período pós pandemia.

Mas ainda assim é um excelente resultado caso venha a se concretizar.

Só que você não pode se esquecer de que o mercado, a economia, os países e a política é imprevisível e arriscada. Qualquer pequena alteração na geopolítica mundial pode assoprar esses números previstos como pó.

A Taxa Selic também volta a subir, saindo da mínima histórica e sinalizando que é hora de controlar a pressão inflacionária.

A tendência daqui para a frente é subida de juros.

Eu enxergo um pouco mais cético todo esse cenário, não permito me exceder no otimismo quando analiso o cenário macro e procuro ser o mais cauteloso possível.

Tem sido bem efetivo nos últimos tempos!

Nós ainda estamos lutando contra uma alta generalizada nos preços e um nível de desemprego alto, o desequilíbrio na cadeia produtiva mundial vai demorar para ser corrigido.

Somamos isso a mais uma eleição presidencial polarizada no próximo ano.

Não me interessa a sua posição política ou ideológica caro leitor, mas precisamos salientar que ambos os cenários geram receio e eu falo isso estando assumidamente à esquerda.

O que podemos extrair disso é que uma gestão Lula seria muito mais pragmática em relação as contas do Estado e a gestão econômica como um todo, Lula provavelmente nomearia um Ministro da Economia que fosse bem quisto pelo mercado e pelo empresariado. Mas, por outro lado, medidas intervencionistas seriam esperadas e arrisco dizer que até em quantidade maior comparado com sua primeira gestão.

Entra aqui o famoso risco fiscal: medo de que o governo gaste mais do que deveria.

Nesse cenário teríamos o inverso do que vem ocorrendo desde 2016 que é o modelo mais liberal e em busca de reformas sistêmicas e cortes na máquina pública e fiscal.

Apesar de ter prometido que a política econômica tomaria um rumo mais liberal, Bolsonaro não conseguiu aprovar as reformas tão esperadas pelo mercado e deve patinar ainda nesse assunto uma vez que é um político que não consegue baixar suas crenças ideológicas em prol do mercado, assim como não consegue manter negociações com a oposição.

Não importando o viés – liberal ou intervencionista, teremos um próximo governo ainda fortemente voltado ao populismo, independente qual dos dois vença.

O Momento é de tirar o risco da sua carteira

Levando tudo isso em conta e somado a realidade onde nos encontramos, espero ter conseguido te convencer que é importante dar uma segurada no nível de risco da sua carteira nesse momento.

Afinal, para o investidor com menos capital não compensa o risco de perda se existe uma opção mais confiável.

Alguns me perguntam: então é hora de parar de comprar renda variável?

Não necessariamente.

Pergunte-se antes quanto do seu capital investido é necessário para sua sobrevivência, emergências ou planos futuros, com essa resposta em mente fica mais fácil saber quanto precisa ir para cada nível de investimento.

Existem e vão continuar a existir boas e excelentes oportunidades na bolsa todos os meses, e muitas delas são confiáveis.

Você deve avaliar com cautela em quais dessas empresas você vai alocar algum recurso.

O momento atual é de pressão inflacionária e a gestão econômica já iniciou o ajuste da SELIC em contenção a esse aumento.

Não perca oportunidades mas, por agora, mantenha-se com o foco voltado em diminuir o risco.

Se você compra ações com objetivo de vender após uma valorização, ou que prometem crescer no médio prazo, então considere possuir papéis que paguem bons dividendos mesmo sem uma valorização constante. É uma boa alternativa.

Considere também o Tesouro IPCA e outras opções na renda fixa que corrijam a inflação.

Em síntese:

  • Busque opções de empresas sólidas e setores seguros na renda variável;
  • Foque mais em recebimento de dividendos ao invés de vender em uma possível valorização;
  • Não torça o nariz para os títulos de renda fixa amarrados no IPCA;
  • Diversifique!

Não se sinta pressionado a embarcar na euforia com a sensação de que todos vão enriquecer e você vai ficar para trás, afinal, você vive em um país em desenvolvimento e se existe uma ação em alta aqui é da companhia “cautela”, essa nunca deveria sair da sua carteira.

Forte Abraço!