[opinião] A Contínua Precarização do Trabalho em Tempos de “Faça Sempre o seu Melhor”​

Existe uma grande insatisfação no meio empresarial da qual precisamos falar sobre.

Não falo pela visão corporativa ou do empresário – o que é completamente comum nesta rede social. Mas sim da visão da força produtiva, popularmente conhecida como: os trabalhadores.

Quais são as insatisfações que perduram nos ambientes produtivos e empresariais partindo da visão de quem produz mas não é detentor dos meios de produção?

Tanto o processo de industrialização quanto do crescimento econômico desde o período pós colonial trouxe questões novas a perspectiva da classe trabalhadora em diversos países da América Latina, tais como os seus objetivos pessoais e profissionais inseridos dentro dos objetivos de maximização dos lucros e da produção por parte das empresas.

Produzir mais e aumentar os lucros desde então tem sido a única ordem a ser seguida dentro das organizações, tornando o trabalhador uma mera engrenagem.

Hoje somos comprados pela ideia de complexidade do nosso mercado e como precisamos apenas nos sentir gratos por tudo que nossa remuneração nos permite comprar, afinal, somos uma sociedade que existe e se mantém sob um único pilar: o consumo.

No mundo movido ao consumo o trabalhador médio encontra uma gratificação em troca de toda sua produtividade, e o objetivo de adquirir mais coisas o torna tão mais produtivo quanto qualquer outro objetivo pessoal poderia torná-lo.

O único problema deste discurso é que o aumento da produtividade não enriquece o trabalhador médio, que foi educado apenas para fazer parte do processo produtivo e mecanizado da maioria das empresas.

O papel do indivíduo como força produtiva média o qualifica a existir como uma peça da engrenagem, e sua visão de mundo e de educação simplesmente não tem o menor valor dentro das organizações. A mensagem motivacional a ser aplicada nesse grupo é sempre fazer melhor, ser melhor, ser mais resiliente e mais produtivo, mensagens que não produzem retornos financeiros em troca do seu aumento como peça produtiva.

Nenhuma organização está disposta a diminuir seus lucros em detrimento de fornecer retornos financeiros nas suas linhas de produção mais baixas e isso precisa ficar muito claro para você.

Na obra “Discursos e Relações de Trabalho” a autora Maria Virgínia Borges Amaral evidencia que ao vender sua força de trabalho o individuo passa a ter o mesmo valor que outros elementos industriais que os empresários têm dentro de suas organizações, ou seja, o indivíduo existe como um número, como uma máquina de produção que pode ser facilmente trocada.

Não se trata apenas da precarização das relações de trabalho, mas de quais são as necessidades pessoais de cada indivíduo que compõe uma organização sem considerar apenas a alta gestão e suas diretorias.

Quanto do lucro pode ser sacrificado em prol dos objetivos de humanização e melhoria nas condições do trabalho, para que o papel do indivíduo como recurso produtivo seja inserido no olhar de valorização do capital humano?

As literaturas administrativas da gestão de pessoas não se detém em classificar a força produtiva como “capital humano”. Cascio e Boudreau (2017) explicitam esse raciocínio ao definir que o capital humano precisa ser gerenciado de acordo com os objetivos e resultados estratégicos da organização.

Isso significa que só pode existir uma gestão das necessidades dos trabalhadores se eles estiverem alinhados aos objetivos de maximização do lucro das empresas em que eles prestam serviços.

A pessoa física virá antes da pessoa jurídica.

Qual o papel da força produtiva dentro das empresas e quais serão os recursos empregados para que ela não faça parte da precarização do trabalho?

A troca sistêmica e automatizada de pessoas em nível operacional hoje é complemente frequente e aceitável como parte do dia a dia operacional, as terceirizações são romantizadas através de programas que os classificam como stakeholders sem ao menos se dar o trabalho de explicar a estes indivíduos o que isso significa e qual o seu papel dentro da organização.

Quais os passos que as organizações estão dando para que não se tornem grandes gerenciadoras de contratos onde não há identificação da força produtiva com os objetivos da empresa?

A expectativa das pessoas cresce cada vez mais conforme o acesso a qualificação se torna mais fácil e barato, os trabalhadores almejam ser reconhecidos e remunerados conforme se tornam peças chaves na produção.

Muito mais que serem reconhecidas como capital humano, as pessoas estão conscientes do quanto entregam para a organização e cobram retorno em cima disso, infelizmente as empresas ainda não estão prontas para retirar uma fatia de seus lucros para investir na força que as mantém produtivas, e a precarização do mercado de trabalho em nível médio e operacional tende a continuar crescendo.

Faz-se necessário que se impeça o sucateamento das instituições trabalhistas e a romantização do trabalho abusivo e mal remunerado, criando escudos de proteção social para que as pessoas possam produzir e gerar riqueza as organizações de forma que tenham o retorno por isso.

Inspirações Bibliográficas:

Manuscritos Econômico-Filosóficos. Karl Marx.

Gestão Estratégica de Recursos Humanos. Wayne Cascio.

Discurso e Relações de Trabalho. Maria Virgínia Borges Amaral.