[opinião] Onde Não Existe Senso Crítico, Não Existe Progresso

Esse assunto se tornou um dos meus favoritos e você não pode começar a ler sem antes entender a definição da palavra demagogia:

Origem grega que significa “arte ou poder de conduzir o povo”. É uma forma de atuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar a massa popular, poder de natureza tirânica ou imoral exercido em nome das multidões.

Falar sobre demagogia nas sociedades humanas remonta aos primórdios da nossa existência como civilização organizada e liderada por chefes de Estado – sejam eles aprovados pelo povo ou não, e por isso é um assunto que por si só seria suficiente para criar um texto extremamente longo.

Definitivamente não é o meu objetivo hoje fazer isso.

Mas se ao ler essa breve definição alguns rostos se criaram no seu pensamento então estamos no caminho certo tendo essa conversa.

Portanto hoje trago uma importante reflexão para a gente fazer junto: não existe progresso ou desenvolvimento em qualquer sociedade humana que esteja desprovida de senso crítico.

Na obra Psicologia Geral e Social a Dra. Lorena (2014) explica que o homem é um ser crítico e não um vazio controlado pelo meio. O indivíduo carrega uma identidade que o caracteriza e que é resultado de um processo de construção, de desenvolvimento.

o senso crítico requer observação, análise e comprovação. A primeira impressão não é suficiente e as conclusões sobre determinados fenômenos têm de ser obtidas de forma metódica e organizada.

Senso comum é o conhecimento do dia a dia, baseado na primeira impressão. Senso crítico é o conhecimento adquirido de forma metódica e organizada a partir de um método científico de pesquisa, como definiu o Dr. Wilson Ferreira Coelha na obra “Psicologia do Desenvolvimento” (2015).

Você consegue perceber a diferença entre senso comum e senso crítico sem perder a base de pensamento iniciada com a definição do que é demagogia?

Quando não somos capazes de criar um pensamento crítico em relação a um assunto que não entendemos – ou que não queremos entender, buscamos uma autoridade que o faça por nós, uma figura pública, uma figura de conhecimento ou mesmo uma figura política e de liderança.

Hoje se tornou extremamente fácil ser um formador de opinião ou produtor de conteúdo opinativo.

E na maioria dos casos esses formadores de opinião não possuem embasamento científico algum, apenas sua própria opinião e visão do mundo, por vezes extremamente simplificada.

Afinal, se eu não entendo é por que não existe e se eu não concordo é por que é mentira ou manipulação.

Eu particularmente gosto muito de citar um caso da época da crise hídrica no Estado de São Paulo onde houve preocupação da população em relação a um possível rodízio de água nas cidades, se não me falha a memória foi 2016 e as chuvas não foram suficientes para reabastecer o mananciais.

Naquele ano pipocaram nas redes sociais vídeos de cidadãos comuns que ao passar por qualquer reservatório da Sabesp ou manancial nas encostas do município, gravavam vídeos alarmantes mostrando que existia muita água no Estado e tudo isso não passava de uma conspiração do governo para criar um rodízio.

Eu lembrando desse episódio me fiz (na verdade faço até hoje!) muitas perguntas:

Qual seria o benefício do governo em criar um rodízio? Qual seria o ganho com isso? Foi o primeiro questionamento que me veio a mente.

Aquele (único) manancial que estava sendo filmado, seria suficiente para abastecer uma população de 45 milhões de pessoas de todo estado de São Paulo?

Quantos aquedutos seriam necessários para bombear água daquele manancial para um estado com 645 municípios partindo do pressuposto que ele tivesse água suficiente para isso?

Se eu que nada entendo de abastecimento de água consigo me fazer essas 3 perguntas e entender que uma crise hídrica é muito mais complexa do que achar um manancial na encosta da cidade, porque foi tão difícil para aquele cidadão se fazer essas 3 perguntas ou qualquer outra pergunta que fosse?

E por último me pergunto para quantas pessoas aquele vídeo foi compartilhado, e quantas dessas pessoas o tomaram como verdade?

É um problemão!

E nós estamos vivenciando um crescimento cada vez mais intenso desse tipo de conteúdo.

E o pior: as pessoas estão com dificuldade de criarem senso crítico e um raciocínio mais apurado para se questionar se aquilo que estão assistindo ou lendo é realmente possível.

Quando elegemos alguém em quem depositamos extrema confiança, é completamente natural que façamos o acompanhamento de seu trabalho, e nos questionemos sempre se aquele elegido está fazendo um bom trabalho enfim!

Mas não é isso que está acontecendo.

Está acontecendo uma cegueira generalizada onde tudo que vai contra a nossa fé, é errado ou é mentiroso.

Uma confiança cega.

E na história da humanidade a confiança cega trouxe severas consequências.

O progresso se atinge quando somos capazes de enxergar com desconfiança as informações que chegam a nós, sem refutar fatos ou dados provados com embasamento científico, e também quando somos capazes de enxergar as falhas dos nossos líderes e os tratarmos como nossos representantes elegidos para exercer a nossa constituição como nação.

E mais importante de tudo: sem apelar ao negacionismo, que aproveitando a deixa, é definido pela wikipédia como: a escolha de negar a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Trata-se da recusa em aceitar uma realidade empiricamente verificável, sendo essencialmente uma ação que não possui validação de um evento ou experiência histórica.

Mas esse assunto eu deixo para uma próxima conversa.

Grande Abraço!