[opinião] Hierarquia dos Fracassos

É estrutural o comportamento de atribuir às bases inferiores na hierarquia da organização, a culpa por erros, fracassos ou desempenho abaixo das expectativas. Muitos colaboradores de posição operacional, se sentem responsáveis pelo insucesso de projetos, fusões, expansões ou dos resultados de metas impostas.

O topo da pirâmide hierárquica se isenta de qualquer responsabilidade pelo fracasso de um projeto, atribuindo como os únicos responsáveis a linha operacional.

É da natureza humana começar a apontar culpados primeiro na base das pirâmedes, não no topo.

Contudo, frequentemente a verdadeira causa do fracasso é o resultado das ações (ou da falta delas) e decisões tomadas no topo da organização, e não em sua base, como aponta Kerzner (2017) em sua obra Gestão de Projetos: As Melhores Práticas.

Mas é preciso salientar que se não estivermos falando em vendas diretas (equipes de atendimento ao consumidor, vendas em campo ou frente de loja), se estivermos abordando projetos administrativos, de melhoria, de expansão dos negócios ou resultados, a responsabilidade pelo sucesso é exclusivamente do topo da pirâmide.

 Soluções completas exigem que várias unidades funcionais trabalhem juntas.

Esses resultados não são facilmente alcançados se não existir uma metodologia de trabalho por parte da gerência ou da coordenação, cabe aos heads da organização definir corretamente o escopo de trabalho de suas equipes, e conseguir direcionar atividades e objetivos de acordo com as forças e fraquezas de cada um.

Estar a frente de equipe significa delegar atividades, dividi-las em pedaços menores que serão corretamente distribuídos entre os colaboradores de nível operacional para que posteriormente a junção desses pedaços de trabalho somem no objetivo geral pretendido.

Com cargas cada vez maiores de trabalho é difícil extrair dos líderes o tempo necessário para que eles montem uma análise de forças de seus times, e assim conseguir enxergar forças e fraquezas dentro dos seus departamentos – podendo com isso, delegar com mais sobriedade.

Além de intensas carga de trabalho, o topo da pirâmide cumpre prazos apertados e tem pouco ou nenhum tempo disponível para desenvolver ideia e potenciais dentro das equipes, passando a gerir unicamente os fluxos de trabalho de acordo com sua urgência.

Na obra Liderança e Cultura Organizacional para Inovação, Brillo e Boonstra (2019) afirmam que os líderes que conduzem os processos de mudança cultural para a inovação devem ser sensíveis ao fato de que se trata de uma mudança organizacional profunda, em que as abordagens tradicionais não costumam funcionar bem. Ao escolherem uma abordagem de mudança adaptativa às circunstâncias, eles podem experimentar junto com a equipe novas possibilidades de solução e ir explorando cada uma passo a passo, com o objetivo de gerar inovações sustentáveis e ganhar participação de mercado.

O principal desafio das organizações é conseguir trabalhar o topo da pirâmide de forma a gerar resultados organizacionais sem culpar os profissionais da base por insucessos dos quais eles não podem criar mudanças estruturais, seja por falta de poder ou influência interna.

É importante expressar meu objetivo com esse artigo de forma clara para que nenhum leitor interprete-o como uma abstenção do poder criativo, ou de mudanças positivas da base operacional trabalhadora, em momento algum quero deixar transparecer que minhas palavras eximem as bases operacionais de qualquer responsabilidade por um trabalho ruim, desmotivado ou incompetente.

Mas objetivo sim, trazer atenção e reconstruir o conceito do foco e culpa no chão de fábrica das organizações, onde deve ser cobrado um trabalho criativo, correto e com foco no sucesso. Entretanto, com a consciência de que existe uma linha de alta administração e liderança que precisa fazer valer o que prometeram agregar as empresas em suas contratações.

A saúde empresarial e dos negócios precisa estar alinhada com a competência e capacidade de gestão do topo da pirâmide, senão as empresas continuarão a perseguir metas inalcançáveis e com grande rotatividade da força de trabalho.